sexta-feira, 6 de maio de 2011



Pela primeira vez no ano, resolvi tomar uma decisão que pudesse, possivelmente, surtir um efeito positivo na minha vida. Decidi que meus dias de bunda mole, tecido adiposo recheado e sedentarismo estavam chegando ao fim. Depois de muito pensar e relutar, matriculei-me, enfim, em uma academia.
Estarei nos padrões. Serei uma pessoa com aspecto saudável e feliz.
No primeiro dia eu tava parecendo Pedro Álvares Cabral quando chegou ao Brasil. Perdida e maravilhada com o que via. E, por incrível que pareça, toda vez que inicio esse feito fico assim, sentindo-me como se fosse a primeira vez, pois não me acostumo nunca. Nada parece familiar.
Queria saber como aquelas criaturas conseguem correr em uma esteira por infinitas horas consecutivas, depois pular numa bicicleta e já sair correndo para dar umas pegadas e levantadas em pesos (lê-se no aumentativo) com uma disposição de criança ruim e em uma velocidade maior que a da luz. Para alguns até rola uma “aulinha” de dança, um jump ou mesmo algumas (várias) braçadas na piscina também.
Parece que nunca vou saber qual o segredo deles. Não tenho disposição suficiente para descobrir e tudo que consigo fazer é inversamente proporcional a tudo visto. Prefiro nem descrever e/ou definir meu desempenho aeróbico. Só de pensar já fico ofegante e cansada.
Aquelas bundas são tão duras quanto a minha realidade. E a flacidez das minhas pernas, peitos e coxas (e de todo o resto) só não é maior do que aquela que existe dentro de mim.
Quando saio daquela caixa cheia de músculos, beleza moldada e suor, acabo vendo que ela é pequena demais e que as minhas gorduras localizadas nunca iriam caber ali. Percebo também que o mundo deveria ficar mais largo se quisesse ser proporcional a mim. Ele que teria que mudar. Eu já desisti. Do mundo, da academia, dos moldes e padrões. Talvez seja apenas mais uma semi desistência.
Segundo profecias, ainda existirá muito início sem final feliz, vômitos noturnos, nenhum efeito positivo visível e a continuação de uma vida dura. Mas tudo bem, afinal ela só é dura para quem tem bunda mole, ou seja, apenas para mim.
Todos os outros estarão ilesos na caixinha.



"Mundo velho
E decadente mundo
Ainda não aprendeu
A admirar a beleza
A verdadeira beleza
A beleza que põe mesa
E que deita na cama
A beleza de quem come
A beleza de quem ama
A beleza do erro
Puro do engano
Da imperfeição..."
(Salão de Beleza - Zeca Baleiro)



 

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